Resumo DokLeipzig
Outubro de 2023
Thaís Vidal
A experiência do DokLeipzig em 2023 foi bastante enriquecedora, além de poder assistir a documentários de diversas partes do mundo e, a partir disso encontrar olhares e vivencias outras, pude vivenciar o ambiente de indústria, o que possibilitou abrir novas frentes e negócios enfocados na área do documentário. Além da participação de diversos produtores, realizadores, festivais e financiadores, o Dok Industry é um espaço para a escuta de experiências e formatos. Pude ouvir experts falando sobre o trato de materiais de arquivo, sobre seus processos com seus personagens e ampliar compreensões de diferentes dinâmicas de realização no âmbito documental.
Destaco o encontro do qual participei com o Dok Incubator, iniciativa da República Tcheca para projetos em pós, que propõe residências artísticas, também aberta a projetos internacionais, para o processo de montagem de filmes de documentário: (https://dokincubator.net) . Na ocasião, a diretora do programa nos forneceu informações valiosas sobre o processo de seleção e de participação na residência, que prevê a presença de direção, montagem e produção para pensar o projeto numa fase tão crucial da pós. Com a presença de mentores experts na área, auxilia a desenhar a audiência e os caminhos para a distribuição e enfoca em consultorias para o corte final do filme, encontrando sua maior potência.
Guardo também um destaque a dois filmes, o Beauty and the Lawyer, da Armênia, dirigido por Hovhannes Ishkhanyan, na competitiva internacional e o The Mother of All Lies, do Marrocos, dirigido por Asmae El Moudir.
O Beauty and the Lawyer acompanha a história de um casal, onde um(a) artista trans Garik/Carabina (ela/ele utiliza os dois pronomes) e uma advogada cis Hasmik se relacionam, dentro de um formato heteronormativo de casamento. Vivenciando o preconceito em um país extremamente duro nesse sentido, o casal enfrenta a sociedade com leveza para viver um amor honesto e verdadeiro e criar seu filho. Uma das protagonistas, a advogada Hasmik, defende direitos LGBTQIA+ em uma organização chamada Pink Armênia. De forma delicada, a direção acompanha um arco temporal na vida do casal, que ao mesmo tempo que performa uma vida padrão de casamento, construção de uma casa e filho, o faz com um respeito e delicadeza sobre suas identidades e seu amor. Destaco que a equipe do filme, no debate, falou sobre a dureza do tema em seu país e a dificuldade por saber se o filme conseguirá ser exibido lá e quais seriam as consequências disso. (https://www.dok-leipzig.de/en/film/beauty-and-lawyer/programm)
Já o The Mother of All Lies, filme marroquino que venceu melhor direção na Un certain Regard, Cannes, este ano e que foi eleito para representar seu país no Oscar, narra, a partir da própria família da diretora, (que levou cerca de dez anos para finalizar o projeto), e, a partir do uso do recurso de animação, através da produção de grandes maquetes e bonecos, uma parte da história do Marrocos e os efeitos políticos e sociais de conflitos armados e violência. A presença forte de um matriarcado e uma dureza de seu país são expostos a partir da figura de sua avó e a reconstrução de um território a partir de seu olhar e de sua história pessoal trazem memórias do país e um retrato da história do Marrocos e das identidades refletidas em sua própria família. (https://www.dok-leipzig.de/en/film/mother-all-lies/programm)
Imagens e texto: Thaís Vidal