Novo diretor do Festival Internacional de Berlim, Carlo Chatrian falou à DW sobre a presença brasileira no evento e a situação do audiovisual no país. “Estamos muito preocupados”, afirmou o italiano, que convidou o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho para integrar o júri da Berlinale 2020: “Achamos importante mandar um sinal para a indústria internacional de que nos importamos com o cinema brasileiro”.
O Brasil alcança neste ano seu maior número de filmes escolhidos para uma edição da Berlinale. Serão 19 obras (produções e coproduções) participando das diferentes mostras que compõem a programação e o longa-metragem Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, concorre ao Urso de Ouro.
“Temos uma grande diversidade. É a melhor resposta para quem diz que o cinema brasileiro não está vivo, e não deve ser financiado”, avalia o diretor do festival.
A organização do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, decidiu suspender o prêmio que leva o nome de um dos seus fundadores, Alfred Bauer, depois que o jornal Die Zeite publicou um material sobre o envolvimento do mesmo com o nazismo.
Nos estudos divulgados, é apontado que Alfred Bauer tinha um posto de alto escalão numa repartição cinematográfica estabelecida pelo chefe de propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels, em 1942.
Alfred Bauer dirigiu a Berlinale de 1951 a 1976. O prêmio agora suspenso pelos organizadores foi lançado como uma homenagem após a morte dele em 1986. A premiação fazia parte do Urso de Prata e era dedicada a “filmes de longa-metragem que abram novas perspectivas no campo da arte cinematográfica”.
30 de janeiro de 2020 / Eugênia Bezerra / Comentários desativados em Filme brasileiro Todos os Mortos concorre ao principal prêmio da Berlinale 2020
O longa-metragem Todos os Mortos, de Marco Dutra e Caetano Gotardo, conta histórias de mulheres que viviam na São Paulo de 1899 e 1900. Esse drama é uma das 19 produções brasileiras que participam da Berlinale 2020, exibidas nas diferentes mostras que compõem o evento, de 20 de fevereiro até 1º de Março. A Assinatura da Lei Áurea (1888) e a Proclamação da República Brasileira (1889) eram acontecimentos recentes no período retratado no filme Todos os Mortos.
“Escolhemos aqueles dois anos porque neles identificamos, mesmo com toda a transformação da época, estruturas que infelizmente permanecem até hoje. Falar sobre a herança da escravidão permite abordar temas como desigualdade social, o trabalho, a presença do negro na cultura e na sociedade”, afirmou Marco Dutra para o crítico Luiz Carlos Merten, do jornal O Estado de São Paulo.
Na sinopse do filme, os cineastas comentam que “os fantasmas do passado ainda caminhavam entre os vivos”. “As mulheres da família Soares, antigas proprietárias de terra, tentam se agarrar ao que resta de seus privilégios. Para Iná Nascimento, que viveu muito tempo escravizada, a luta para reunir seus entes queridos em um mundo hostil a conduz a um questionamento de suas próprias vontades. Entre o passado conturbado do Brasil e seu presente fraturado, essas mulheres tentam construir um futuro próprio”, dizem eles no texto sobre a obra.
“Estamos muito satisfeitos com o trabalho, e curiosos para ver como será recebido, no País e fora, nesse momento em que o olhar internacional está tão voltado para o Brasil”, completa Marco Dutra na mesma entrevista ao Estadão (confira o texto na íntegra).
O cinema brasileiro tem mesmo se destacado no Festival de Cinema de Berlim. Há alguns anos, outro drama situado relacionado a um momento marcante da história do Brasil, Joaquim, do pernambucano Marcelo Gomes, sobre Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), também concorreu ao Urso de Ouro. Mas é preciso lembrar que este olhar para a história presente nos filmes em questão tem sido acompanhado de reflexões contemporâneas sobre os rumos do País.
SAIBA MAIS
Aproveitando as notícias sobre a Berlinale 2020, a jornalista Juliana Domingos de Lima escreveu sobre a importância da internacionalização para o cinema nacional em texto publicado no portal Nexo. “Em edições recentes, o país tem ficado atrás, em número absoluto de títulos selecionados, apenas da Alemanha, anfitriã do evento (em que há mostras específicas para o cinema alemão), e de França e Estados Unidos, conhecidos por suas indústrias cinematográficas pujantes”, contabiliza (confira o texto na íntegra).
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