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European Film Market (EFM) 2023

Por Thaís Vidal

Entre os dias 16 e 22 de fevereiro, a produtora e roteirista Thaís Vidal, enviada pelo CCBA-Recife à Berlinale, participou do European Film Market (mercado cinematográfico europeu) e entendendo a importância e a necessidade de espaços como esses para impulsionar a indústria de cinema de Pernambuco, ela fez uma lista de dicas para quem tiver interesse em participar do EFM.

Os ambientes de mercado são espaços fundamentais para a internacionalização de projetos e empresas e é fundamental estar preparade para encarar os desafios dos espaços. Acreditando na importância para todes produtores de Pernambuco, aqui vão as dicas:

Primeiro de tudo, o EFM é um ambiente de negócios, onde as pessoas estão focadas em compra e venda, onde há muitas empresas, instituições e pessoas de distintos portes econômicos dentro do setor que estão interessadas em fazer negócios, portanto é preciso entender como se preparar.

Entender quem são os interlocutores, o que queremos vender ou comprar e qual é nosso patamar de execução econômica nos faz entender bem em que espaços queremos nos apresentar e logo poderemos preparar nossa agenda.

Dica principal: pesquisar o catálogo do Mercado, filmes nas sessões da Berlinale e suas produtoras e verificar se há conexões reais com os seus projetos. Depois disso, entre em contato com todas as pessoas e monte sua agenda antes de chegar em Berlim.

Atenção! Isso não significa fechar-se para coisas que podem acontecer no ambiente.  O EFM é um espaço muito grande, que reúne centenas de stands de países, produtoras, agentes de vendas e instituições em geral. Então, lá você pode encontrar novas possibilidades, mas é preciso manter o foco inicial a partir de sua pesquisa sobre pessoas com quem você vai se reunir.

Outra coisa importante é: se puder, chegue ao menos um dia antes do início das atividades, para se ambientar, entender os deslocamentos e, se possível, comprar um chip local, isso vai te facilitar nos deslocamentos e no acesso a e-mail e ao whatsapp para possíveis mudanças na agenda com seus interlocutores.

A dica final é: calma! os ambientes de mercado são enormes, mas cada reunião será um “start” e você vai começar relações que podem gerar frutos futuros para os seus projetos. Você pode sair com negócios mais encaminhados, outros completamente abertos, mas a rede de negócios é fundamental e ela vai crescendo a cada participação num ambiente como esse!

Filmes Brasileiros na 73ª Berlinale

Por Thaís Vidal

A 73ª Berlinale, que acontece na cidade de Berlim entre 16 e 26 de fevereiro de 2023, recebeu bonitos e importantes filmes brasileiros em sua programação. Apesar da grandeza dos filmes e dos esforços de seus e suas  realizadoras, realizadores, produtores, equipes e elencos, que vieram participar do festival, a discreta participação de filmes brasileiros reflete os últimos anos de destruição das políticas públicas no país e por conseguinte dos fundos para o cinema, o que desestruturou o mercado ainda mais diante da pandemia. 

A Berlinale tem um caráter bastante político e os filmes brasileiros exibidos aqui este ano acabam por refletir posicionamentos e temáticas relevantes para o cenário político nacional, a partir de formatos e perspectivas distintas, com beleza, drama, humor. 

Os filmes exibidos:

A Rainha Diaba, dirigido por Antônio Carlos da Fontoura, em 1974, cópia restaurado com apoio do Janela de Cinema, Festival do Recife, teve sua primeira exibição fora do Brasil, e Berlim.

O estranho, longa dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, de São Paulo, em première mundial, traz os temas da ancestralidade, dos territórios.

Infantaria, curta dirigido por Laís, de Maceió, em première mundial, traz a temática da infância, do crescimento de uma menina e a relação com a menstruação, entrelaçada ao tema importantíssimo do aborto.

As Miçangas, dirigido por Emanuel Lavor e Rafaela Camelo, de Brasília, em première mundial, traz também o tema do aborto.

Ainda hoje, terá sessão do filme pernambucano Propriedade, dirigido por Daniel Bandeira.

Relato Berlinale – Talent Press

Por Lorenna Rocha

Estar numa viagem internacional pela primeira vez é um grande desafio. Cheguei na Alemanha no início da semana anterior e sinto que fui me adaptando aos poucos ao clima, à cidade, ao ritmo do festival e ao contato com diversas culturas, pessoas e situações que ainda são tão novas para mim. Ter sido selecionada no Berlinale Talents Press, uma atividade formativa em crítica cinematográfica, pode ser visto como um salto significativo na carreira. Pela primeira estou vivenciando um festival internacional desse porte e também aprendendo novas formas de trabalhar em coletivo e de construir pensamentos sobre assuntos que nem sempre estive em tanto contato, como estou tendo a oportunidade de experienciar agora.

Os encontros do Talent Press acontecem, em sua maioria, entre o HAU2 e HAU3, espaços onde as atividades da Berlinale Talents se concentram. É importante dizer que, antes de chegarmos em Berlim, nós tivemos cerca de três reuniões de preparação e também escrevemos um texto individual, sobre um dos filmes que está na programação do festival deste ano, Seven Winters in Tehran (2023), de Steffi Niederzoll. Nesses últimos dias, além de conhecer e de me aproximar dos meus colegas críticos (Teresa Vieira, Luise Morke, Jerry Chiemeke, Han Tien, Gayle Sequeira, Dora Leu e Amarsanaa Battulga), estive imersa em uma série de conversas com nossos mentores, Leonardo Goi, Pedro Butcher, Dana Linssen, Michelle Carey e Aily Nash) artistas convidados, com os assuntos dos mais diversos. Vou destacar alguns que me chamaram bastante atenção:

a) Introduction, por Leonardo Goi: Nessa atividade, pudemos nos conhecer pessoalmente pela primeira vez e comentamos os textos que foram escritos a partir do filme de Steffi Niederzoll. Foi muito legal perceber a forma de escrita de cada um dos Talents e também receber um feedback inicial de nossos mentores. Fica bem demarcado que tipo de texto crítico o programa procura, uma vez que nós escrevemos sobre o filme da programação para o blog oficial do Talent, ao mesmo tempo que somos estimulados a ter uma liberdade criativa e também trazer nossa personalidade para dentro do texto.

b) Market Studio & Talent Press – Festival and Market Inspiration: A conversa mediada por Kevin Lee foi dedicada a pensarmos nos festivais de cinema durante e após o período da pandemia da Covid-19. Quando estive no Talent Press Rio, no Festival do Rio em 2019, já havia conhecido Kevin Lee: ele nos deu uma palestra sobre vídeo-ensaio. Dessa vez, o interesse pelas mudanças e impactos produzidos pelo período de isolamento social e geográfico, além da expansão festivais de cinema no formato remoto ou híbrido, mobilizou a atividade, e Talents de outras áreas de formação (como direção, edição, design de som) puderam participar e contribuir para o debate de maneira fortuita. Esses espaços de troca também são muito importantes para conhecermos novas pessoas e acredito que esse é um dos pontos mais fortes da Berlinale Talent: incentivar a criação de conexões entre pessoas de várias áreas de conhecimento e de diferentes partes do mundo!

c)  Talent Press: Mentor’s Session II: O mentor Pedro Butcher convidou quatro artistas brasileiros(Janaína Wagner, Chica Barbosa, Lui Avalos e Pedro Harres) para conversarmos sobre VR (Realidade Virtual), cinema experimental e crítica de cinema. Esse foi um dos encontros que mais me empolguei, não apenas por estar conversando sobre cinema brasileiro, mas por ter conseguido pensar sobre VR numa perspectiva mais voltada ao circuito cinematográfico, de possíveis formas de experiência coletiva com a VR e os desafios para torná-la mais acessível e democratizar seu acesso. Além disso, a convergência entre esse tipo de trabalho e de cineastas experimentais (como Janaína Wagner e Chica Barbosa) possibilitou que nós conversássemos sobre a própria ideia de cinema, o que cabe (ou extrapola) essa linguagem e como o diálogo com outras expressões artísticas (como as artes visuais e o VR) acabam por tensionar uma ideia “convencional” de cinema.

Ainda faltam algumas atividades para fazermos! Em breve, compartilho mais notícias e impressões.

Conexão Recife – Berlinale 2023

CCBA marca presença no 73º Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale)

Por Marina Mahmood

Hoje inicia a 73º edição de um dos festivais audiovisuais mais importantes do mundo: Entre os dias 16 e 26 de fevereiro, na cidade de Berlim (Alemanha), acontece o Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale).

O festival alemão foi criado em 1978 e, desde então, ocorre anualmente no mês de fevereiro trazendo produções audiovisuais de destaque global. Os filmes exibidos durante o evento concorrem a diversos prêmios, como o Urso de Ouro (Goldener Bär) e o Urso de Prata (Silberner Bär).

A novidade este ano é que o CCBA está enviando a produtora de cinema e sua ex-aluna, Thaís Vidal, para representar o centro no festival. Em Dezembro de 2022, durante debate no Kulturforum no CCBA, Thaís levantou a importância de firmar parcerias internacionais para ampliar o mercado artístico local em Recife (PE) e no Brasil, expandindo formas de captação de recursos pela realização de cooperações e coproduções internacionais.

>> Confira a matéria sobre o Kulturforum na íntegra: http://www.ccba.org.br/kulturforum-promove-debate-sobre-cooperacao-cultural-e-politicas-publicas-na-arte/

Com a ida à Berlim, a ideia é que Thaís consiga sondar possibilidades de cooperações internacionais no campo audiovisual entre Brasil e Alemanha. A viagem seria um pontapé inicial para abrir canais de comunicação entre os festivais de cinema alemães e a produção cinematográfica recifense, firmando possíveis parcerias, como por exemplo, o intercâmbio de filmes e de realizadores audiovisuais da Alemanha para o Brasil.

Além de Thaís Vidal, o CCBA apoiou a ida de Lorenna Rocha (pesquisadora, crítica cultural e curadora) à Berlinale. Este ano, Lorenna foi selecionada para o Berlinale Talents – programa de desenvolvimento de talentos do Festival Internacional de Cinema de Berlim (https://www.berlinale-talents.de ).

Dentro do programa, a pesquisadora vai participar de uma formação de crítica cinematográfica junto com pessoas de todo o mundo. A ideia da formação é que os participantes desenvolvam a escrita através das aulas e que realizem uma cobertura crítica do festival publicando textos no site: https://www.talentpress.org/

Recentemente, um dos festivais que Lorenna participou enquanto curadora foi o Janela Internacional de Cinema do Recife. Com o apoio oferecido à Lorenna, o CCBA espera contribuir também com a curadoria da programação do Janela Internacional deste ano (2023).

Confira o site da Berlinale: https://www.berlinale.de/en/home.html

Saiba Mais: https://www.goethe.de/prj/hum/pt/deu/ber/24523813.html

BIOGRAFIA

Thaís Vidal

Thaís Vidal (Recife, 1990) é roteirista, produtora e diretora, Mestre em Roteiro audiovisual (2021) pela Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, Cuba. Graduada em Jornalismo (2012) pela UFPE e também Mestre em Planejamento Urbano (2017), cursa atualmente Doutorado em Cinema (2020-2024) pela mesma instituição. Em 2014, lançou seu primeiro curta como roteirista e diretora, o documentário Fora da Ordem. Em 2015, fundou a Ponte Produtoras, empresa focada na produção de longas e curtas-metragens de ficção e documentário de jovens realizadoras e realizadores. Produziu filmes exibidos em grandes festivais como Semana da Crítica de Cannes, Locarno Film Festival, La Havana, Festival de Brasília, Festival do Rio, dentre muitos outros, alguns lançados comercialmente. Seu primeiro roteiro de longa, Sensor de Ausência, está em desenvolvimento, na fase de captação de recursos e conta com coprodução da Vitrine Filmes, tendo sido escrito no mestrado em Cuba e assessorado por grandes nomes da EICTV. Thaís faz parte da Rede Paradiso de Talentos. Em 2022, realizou curadoria para o concurso FRAPA de roteiros de longa e colaborou na escrita do roteiro do próximo longa do diretor Marcelo Lordello.

Redes sociais:

https://www.instagram.com/vidal.a.thais/

Lorenna Rocha

Historiadora (UFPE), pesquisadora, crítica cultural e programadora. Co-fundadora da INDETERMINAÇÕES https://indeterminacoes.com/ – plataforma de crítica e cinema negro brasileiro (PE/MG). Editora-chefe da camarescura – estudos de cinema e audiovisual (PE). Integrou a curadoria da edição especial do Janela Internacional de Cinema do Recife (2022) e das duas últimas edições do FestCurtas BH (2021, 2022). Desde 2019, ministra cursos e oficinas acerca dos cinemas e teatros negros brasileiros e da crítica.

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Berlinale 70: uma edição corajosa em meio a intempéries

Days (Tsai Ming-Liang, 2020)

A 70ª Berlinale iniciou em meio a intempéries de vários níveis, do temor sobre o coronavírus (o júri do prêmio Teddy, por exemplo, teve ausente um de seus jurados, chinês, ficando desfalcado) a mudanças de infraestrutura causadas por revisões orçamentárias e reformas na região da Potsdamer Platz, base do festival. Na quarta antes da abertura, um atentado da extrema direita em Hanau, próxima a Frankfurt, retomou fantasmas. Semanas antes, a revelação de que Alfred Bauer, importante ex-diretor já falecido do festival, fora ligado ao nazismo, pôs o festival em controverso retrospecto. O prêmio que há 33 anos levava seu nome foi cancelado pelos novos diretores, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian.

Em conversa com críticos alemães, para mim ficou nítida certa desconfiança, por parte da imprensa local, diante dos rumos que os novos diretores viriam dar ao festival. Rissenbeek, holandesa, vinha há alguns anos à frente da agência alemã German Films, assumindo a direção executiva da Berlinale. Chatrian, italiano, há seis dirigia o Festival de Locarno, convidado para a direção artística em Berlim. A lista de programação divulgada já deixava claro que certo capital simbólico de mercado por aqui, neste festival de maior magnitude que o suíço, somava-se a certo prestígio cultivado por Chatrian junto a alguns setores artísticos. Após os dez dias de Berlinale, ficou evidente que o perfil de Locarno, que vinha se firmando como festival atento, arriscado e arrojado em termos curatoriais, ganhou readequação na infraestrutura maior de Berlim – ainda que esta mesma tenha sido reduzida, de cerca de 400 para 350 filmes. Considerada por alguns uma Berlinale em tom menor, em geral o festival foi aclamado pela crítica internacional por uma retomada de relevância artística, uma amostragem de personalidade curatorial e a busca por um filão próprio que seja capaz de diferenciar Berlim de outros grandes festivais, como Cannes, Sundance e Veneza.

Isto está evidente em certo balanço, na competição oficial, que fez desta edição a mais instigante desde que acompanho as listas da Berlinale: balanço entre certos grandes realizadores de propostas particularmente inventivas, limítrofes, entre cinema de mercado e cinemas pequenos (Tsai Ming-Liang, Hong Sang-soo); apostas em nomes não tão capitalizados de pesquisa própria fresca, saborosa, por vezes surpreendente (como Kelly Reichardt e a parceria entre Caetano Gotardo e Marco Dutra); e um tom político mais direto que aparece em formas mais convencionais de comentário (Gustave Kervern e Benoît Delépine ou o Urso de Ouro Mohammad Rasoulof), traço das últimas seleções que ganhou continuidade. Em linhas gerais, uma seleção de corpo, em que os piores filmes parecem compor mais um desejo de diversidade e cor do que indicam falta de fôlego. É muito saudável que os públicos possam conhecer formas tão diferentes de se fazer cinema numa única seção, que é de todo modo prestigiosa junto às multidões e atrai milhares de pessoas aos palácios do festival.

Para reiterar seu desejo por arrojo e alocar mais filmes envisionados por seu projeto de curadoria, Chatrian criou a seção Encounters, em que 15 filmes em geral um pouco mais idiossincráticos se reuniram como numa espécie de segunda competição para cinemas cujos traços artísticos são imponentes sem que deixem de investir numa experiência forte de sala de cinema. Sendo assim, a Forum, em sua 50ª edição, ficou marcada por um ar independente ainda mais arejado, sendo que ao fim de 10 dias fica claro que aqui a busca por cinemas diferentes ganha agora um tom mais distinto de liberdade, de certo descompromisso com o espetáculo das vogas. Do contrário, há uma crença de que o fazer artístico não é dirigido por laboratórios e mercados, mas por projetos de pensamento essencialmente particulares.

É uma ideia francamente afirmada com a retomada da programação da primeira Forum (cujo nome completo é Forum Internacional do Novo Cinema), em 1971, como comemoração do cinquentenário. Era uma seleção particularmente incrível, de forte inflexão política, com filmes de Chris Marker a Nagisa Oshima, de Med Hondo a Theo Angelopoulus, em contexto de Guerra Fria cujos temas e formas ressoam nas guerras ideológicas atuais, e daí sua revisão ser tão oportuna. Sob a direção também renovada de Cristina Nord, eis a Forum fazendo um grande trabalho de retomada e reafirmação de princípios, dando à Berlinale um ar de constelação. As tantas seções do festival (Panorama, Generation, Berlinale Shorts, Forum Expanded), quase todas passando por reformulações, parecem estar dirigindo a atenção a uma sensibilidade internacional progressista que se traduz não só nas bandeiras, mas também em possíveis formas para as novas batalhas históricas, num generoso retrato dos cinemas do presente. Belo festival.

‘Todos os mortos’: certos movimentos no cinema brasileiro

Exibido na competição oficial, Todos os mortos de Caetano Gotardo e Marco Dutra foi uma seleção dissonante numa bela competição oficial, muito mais instigante que nos anos anteriores, cheia de filmes igualmente idiossincráticos, universos fascinantes e distintos de cinema (pensar, por exemplo, em Days, de Tsai Ming-Liang, Siberia, de Abel Ferrara ou First Cow, de Kelly Reichardt). Em particular, o brasileiro (com co-produção francesa) me parece indicar, com frescor, certos horizontes para o estado da discussão (inclusive formal) em torno da anti-colonialidade nos debates locais.

Se se reivindica um movimento que deixa de ser meramente futurista, como na voga recente, e que ultrapassa o presenteísmo que veio marcando tanto o retrato geral dos nossos filmes em anos anteriores, para então escavar memórias coletivas (note-se a lida com as diásporas africanas ou as vozes queer ou indígenas), Todos os mortos se soma a filmes recentes como Joaquim (2017), de Marcelo Gomes, ou O nó do diabo (2017), de Ramon Porto Mota, Jhésus Tribuzi, Gabriel Martins, Ian Abé, com que se enfrenta a imaginação de época da história geral básica brasileira. Aqui, temos um filme que em particular acessa dados da história oficial, sem que busque neles o mero documento, mas material para reconfiguração artística dos próprios dados: quer dizer, nossas datas históricas são não só o palco para dramaturgias novas como põem em novo diagrama relações simbólicas de classe, raça e gênero a partir de certos interesses propriamente dramáticos e estilísticos, e que têm feito dos cinemas de Caetano Gotardo e de Marco Dutra tão frequentemente instigantes.

A recepção mista em Berlim me parece dever em parte à não familiaridade do olhar estrangeiro com certas intuições que movimentam o filme a partir da domesticidade de costumes e valores. É, assim, muito lindo ter visto esse filme ser exibido num palácio e a multidão de espectadores a ter que se explicar para ele (não é isso o que fazemos diante de um filme?). A ver suas reverberações quando chegar ao Brasil.

Filmar dissidências: entre vida e filme

Las mil y una (Clarisa Navas, 2020)

Na abertura da Panorama, Michael Stütz, novo diretor da seção, reclama pela rebelião. A Panorama é a do discurso direto, a que mais acredita na representação, e na representatividade, na chave da comunicação ampla como maior vocação do cinema. Há uma lista de problemas a ser tocada e de alguma maneira reparada pela imaginação do cinema (isso parece ser uma crença). Em especial, lutas geopolíticas e micropolíticas: trata-se, em geral, da união de bichas e bruxas (ou seja, todas as vidas que escapam ao status quo), em histórias de desobediência contadas com a transparência da tradição clássica em suas versões contemporâneas.

O filme da abertura, Las mil y una, assim se anunciou: filme de diretora argentina – Clarisa Navas – balanceando a hegemonia G na indústria da cultura LGBT, bem como indicando o projeto deste festival em destacar outro ponto de vista que não o do hemisfério norte. Se há algo de maior interesse no filme de Clarisa – e no que significa a escolha deste filme para abrir a mostra – é certa reconexão temporal entre lacração e realismo, digo: se nos últimos tempos vimos muitos cinemas dissidentes apostando no artifício, no bafo, no extemporâneo da performance como alternativa de vida (ou de morte de um mundo para surgimento de outro, como se tem dito no lugar comum das nossas melhores esquerdas), aqui há uma espécie de retorno ao pacto naturalista. Com isso, não significa que se tenha abandonado a reivindicação pelo queer como alternativa à política LGBT (que teria mais a ver com acesso a instituições que com a performatividade de visões outras). Nem que, neste sentido, deixamos a fantasia criadora do palco para retornar à melancolia mitigadora do quarto. Me parece é que talvez a invenção do corpo queer contemporâneo demonstra assimilação pelo olhar comum, já podendo ter educado os corpos do presente como o entendemos, e assim retornar à superfície onde se dá a tessitura do tempo cotidiano.

Do encontro entre fetiche do plano-sequência, retrato das vidas e busca por corpos extraordinários, talvez a assunção de que a educação queer despeja o artifício na sabedoria do tempo; e a dissidência, motor deleuziano, é reconfigurada em código baziniano. Erika Lust encontrou Lucrecia Martel. Observe com calma e verás cada detalhe dos gestos os quais nosso olhar, tendo olhado o bastante, já pôde assimilar, analisar, reexibir para um filme. Não estou falando simplesmente de filmar o cotidiano, mas talvez o contrário, um projeto de cotidianizar o filme: há uma difícil busca racional pelo propriamente pulsional no modo como o filme de Clarisa entende ser capaz de sequestrar gestos de pessoas (no que será um filme portanto em muito coreográfico). Las mil y una termina por localizar e indicar uma disputa que parece central à Panorama e à Berlinale: entre aquilo que preserva o rasgo das liberdades e aquilo que representa, e portanto domestica, vidas dissidentes (para fazer filme).

O sol queima sobre nós: parte do problema


Memory Also Die (Didi Cheeka, 2020)

Um grande sol queimando em looping está projetado no alto, sobre a entrada da área de exposição do Silent Green Kulturquartier, um antigo crematório ao lado de um cemitério no bairro de Wedding, hoje um centro cultural ocupado anualmente pela Berlinale. O filme é The sun, de Kika Thorne (2020), parte da exposição Part of the Problem (ou Parte do Problema), da Forum Expanded, seção do festival que situa o cinema na fronteira com as artes visuais. A sensação de um grande problema geral em curso, queimando sobre as cabeças e que a todos diria respeito, veio dando tom à programação e aos discursos nesta 70ª Berlinale, que busca renovação com a mudança de chefia na maior parte das seções, o que tem sido reiterado artística e diplomaticamente.

Abertura da exposição, quarta-feira 20, um dia antes da sessão de abertura: Marriete Rissenbeek e Carlo Chatrian, novos diretores do festival, incorporam à sua fala o desagravo ao ponto de vista europeu; notam, seria preciso reconhecer as diferenças, as reformas identitárias, os processos coloniais. Uma das coisas mais bonitas nessa lista de obras, que valoriza das inclinações políticas da performance contemporânea às do cinema-ensaio, em longos corredores onde um dia eram depositadas urnas com corpos cremados, é o filme Memory Also Die (ou “A memória também morre”, 2020) de Didi Cheeka, uma breve visita a arquivos que traçam a produção colonial de esquecimento na Nigéria. “Infelizmente, ainda temos mais França que Nigéria aqui, mas um dia isso vai mudar”, diz o diretor do festival.

Diretor da Berlinale preocupado com rumos do cinema no Brasil (DW)

Novo diretor do Festival Internacional de Berlim, Carlo Chatrian falou à DW sobre a presença brasileira no evento e a situação do audiovisual no país. “Estamos muito preocupados”, afirmou o italiano, que convidou o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho para integrar o júri da Berlinale 2020: “Achamos importante mandar um sinal para a indústria internacional de que nos importamos com o cinema brasileiro”.

O Brasil alcança neste ano seu maior número de filmes escolhidos para uma edição da Berlinale. Serão 19 obras (produções e coproduções) participando das diferentes mostras que compõem a programação e o longa-metragem Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra, concorre ao Urso de Ouro. 

“Temos uma grande diversidade. É a melhor resposta para quem diz que o cinema brasileiro não está vivo, e não deve ser financiado”, avalia o diretor do festival.

Confira a entrevista completa de Carlo Chatrian para a DW.

Quer saber mais sobre a atuação do CCBA, cursos de alemão e certificados oficiais, então visite o nosso site ou entre em contato pelo (81) 3421-2173.

Luís Fernando Moura compartilha suas expectativas para o Festival Internacional de Cinema de Berlim

O curador e pesquisador Luís Fernando Moura é o autor dos textos que serão publicados no site da Conexão Berlinale nos próximos dias. Antes de embarcar para a terceira experiência dele no Festival Internacional de Cinema de Berlim, o pernambucano falou sobre as expectativas em relação ao evento.

Luís Fernando Moura também comentou sobre as viagens anteriores, também realizadas por uma parceria entre o Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA) e o Festival Internacional Janela de Cinema do Recife, do qual ele é coordenador de programação. Características dos dois eventos fazem parte da entrevista a seguir.

EUGÊNIA BEZERRA – Poderia falar sobre sua relação com o Festival de Berlim e relembrar um pouco da experiência anterior de parceria entre o Janela com o CCBA?

LUÍS FERNANDO MOURA – É a minha terceira vez no festival, após as edições de 2016 e 2017, sempre em parceria entre o Janela e o CCBA. Dessas viagens vieram descobertas de filmes e contatos com pessoas que vêm se refletindo no Janela desde então, às vezes por meio de pontes cujos efeitos são diretos.

Em 2016, conheci 1 Berlin-Harlem, de Lothar Lambert e Wolfram Zobus, no Kino International, uma sala de cinema impressionante na Berlim Oriental. É um filme do underground alemão de 1974 que cria uma narrativa da liberdade no ambiente da Guerra Fria, e que encontrou bem a noção de desobediência que inspirou aquela edição do Janela, daí que terminamos por exibi-lo na mesma cópia em 35mm no Cine São Luiz, em parceria com a Cinemateca Alemã, certamente uma exibição inédita deste realizador anônimo no Brasil, mas de reconhecimento longevo em meio a certa cinefilia alemã interessada nas bordas e nas alternativas da histórica artística. Foi um intercâmbio incomum, eu diria.

Em 2017, Let the summer never come again, algo como um épico errante georgiano-alemão de Alexandre Koberidze, residente em Berlim, tinha estreia mundial na Semana da Crítica de Berlim, evento paralelo ao festival, e depois de ganhar o prêmio do júri no FIDMarseille teve estreia brasileira na competição de longas do Janela, onde foi recebido como descoberta feliz de um filme de amor radical e do trabalho deste diretor jovem. Koberidze veio ao Janela com apoio da German Films, agência parceira com que travamos parcerias nas visitas à Berlinale, e que apoiou, no ano anterior, a viagem dos brasileiros Melissa Dullius e Gustavo Jahn para exibir seu Muito romântico, uma ficção biográfica com matizes de ensaio e cinefilia experimental em torno da mudança dos dois para Berlim, onde moram e fazem filmes em 16mm há mais de dez anos, no âmbito da produtora Distruktur.

Foi também nesta edição que fizemos parceria com os integrantes do Rabbit Hole, coletivo europeu que veio ao Janela exibir dois programas de filmes na interseção entre o cinema, as artes visuais, a cultura da rave e a experiência queer.

A Berlinale é um mundo imenso e há ali toda forma de ideia circulando. É possível entrar em contato com inúmeras visões de cinema, linguagem e sociedade, que de alguma maneira deslocam inspirações, contrastes ou ressonâncias para o processo curatorial do Janela, e isto tem como fonte ou meio o festival mas também a própria capital alemã, com os pequenos circuitos de conversa e troca que se formam no interior e no entorno das programações oficiais.

Vale notar que o Janela tem com alguma frequência feito estreias mundiais que posteriormente ganham primeira exibição internacional na Berlinale, como é o caso de Estás vendo coisas (2016) e Terremoto santo (2017), ambos de Barbara Wagner e Benjamin de Burca, e de Jogos dirigidos (2019), de Jonathas de Andrade, que vai ser exibido este ano na mostra Forum Expanded.

EUGÊNIA BEZERRA – Que características você destacaria no Festival de Berlim?

LUÍS FERNANDO MOURA – Bom, junte-se perfis do evento e da cidade e talvez ele seja um festival com vocação para, digamos com a figura da hipérbole, abrigar virtualmente todas as características. É um festival de enorme apelo a um muito numeroso público, com dezenas de salas e centenas de filmes, às vezes com 4, 5, 6 exibições públicas cada um, fora as sessões de imprensa.

A paisagem é a de um grande centro expandido tomado por um festival, que é anunciado nos outdoors por todo lado, gera filas em pontos de venda, ocupa multiplexes e incríveis salas de rua. Um grande edifício na mesma região sedia o European Film Market, considerado o maior encontro do mercado do audiovisual no continente e que funciona como uma grande feira de negócios internacional. E há também o programa Berlinale Talents, que oferece diversos programas de formação e é talvez o mais reconhecido do mundo – tem aliás edições também anuais, mais compactas e direcionadas, no Rio e em Buenos Aires, por exemplo. Há, neste sentido, do oficial ao extra-oficial, muitos grandes festivais no interior de um mesmo enorme festival de múltiplos horizontes, que abrange muitos mercados e as mais diversas formas de atuação nesses mercados: desde a competição oficial, que inclui o pacote tapete vermelho e o Palácio Marlene Dietrich, exibindo filmes que esperam distribuição expressiva no chamado mercado alternativo internacional, até a Forum Expanded, mostra dedicada ao cinema experimental que veio nos últimos anos ocupando principalmente os cinemas do Arsenal, ligados à Cinemateca, e a Akademie der Künste, ótimas salas de cinema com ar de cineclube — e há ainda as retrospectivas, a competição de curtas, a Forum, a Panorama, a Generation e a nova seção Encounters.

São cerca de 400 filmes por ano. A eles se soma ainda a Semana da Crítica, um evento jovem, concebido pela crítica independente alemã, que tem se destacado a partir de uma postura antagônica (em sentido generoso, mas firme) ao modelo de grande festival panorâmico, e que faz ótimas sessões de uma dezena de filmes contemporâneos com debates na sequência, sob curadoria criativa, e que tem de alguma forma se integrado transversalmente ao festival (farão a estreia alemã de Sete anos em maio, filme de Affonso Uchôa eleito melhor curta brasileiro no último Janela, onde recebeu também o prêmio de aquisição do Canal Brasil) – em suma, há outros diversos pequenos eventos que se acumulam pela cidade, como a Boddinale, uma Berlinale micro, local e às vezes algo anarquista. Me parece que há aí festivais, subfestivais e contrafestivais num diálogo urbano de dimensões no mínimo plurais, e que movem também as comunidades berlinenses, seja pela adesão ou pelo tensionamento.

EUGÊNIA BEZERRA – Quais são as suas expectativas enquanto curador e pesquisador para esta edição do festival?

LUÍS FERNANDO MOURA – Estou bem curioso com as mudanças na curadoria do festival. Este é o primeiro ano de direção artística de Carlo Chatrian, egresso do Festival de Locarno, e de certa forma ele parece ter trazido algum sabor de Locarno para se juntar ao de Berlim. Note-se, por exemplo, a presença do filme de Marco Dutra e Caetano Gotardo na competição oficial. Há três anos, Marco Dutra exibiu (com Juliana Rojas) na competição do festival suíço. Aliás, é uma seleção atraente que me parece se posicionar de maneira consciente entre, digamos, hegemonia e contra-hegemonia.

Há filmes novos, por exemplo, de Tsai Ming-Liang e de (como sempre) Hong Sangsoo, mas também de Abel Ferrara e de Kelly Reichardt, Rithy Panh ou Christian Petzold. Me parece que cada um desses nomes acena para uma nota de cinefilia particular, sendo que temos ao fim um conjunto de realizadoras e realizadores instigante, mais arrojado que nos últimos anos.

A Panorama também mudou de direção, agora sob comando de Michael Stütz. Esta seção tem como perfil um espectro mais amplo do mercado de cinema, a seção mais volumosa e em geral bastante politizada no sentido mais imediato da palavra, muito diversa e que tende a buscar um contato mais direto com os públicos. Fico curioso porque Michael, ainda que seja um dos programadores da seção há muitos anos, é ex-diretor do Xpanded, ótimo festival de cinema queer berlinense, e é também um dos principais nomes à frente do Teddy, eixo LGBT da Berlinale. Tenho a sensação de que, estando à frente da Panorama, empresta a ela uma energia interessante.

Particularmente me atrai a nova seção competitiva Encounters, que traz 15 longas na chave artística da invenção e vai estrear títulos como os novos de Matías Piñero e Camilo Restrepo, também veteranos de Locarno (posso dizer que o Janela introduziu bem no Brasil o trabalho de Restrepo em curta-metragem). Essa edição será também um teste de novas apostas para celebrar os 70 anos da Berlinale. Ainda mais curiosidades: a mostra expositiva dedicada à cineasta guarani Patrícia Ferreira no interior da Forum Expanded, curada por Anna Azevedo. A programação de 50 anos da mostra Forum, que além dos filmes de 2020 vai reexibir a programação de 1971.

EUGÊNIA BEZERRAImagino que seja difícil escolher o que assistir com tantas opções… Existem temas ou eixos que lhe interessam mais nesta edição?

LUÍS FERNANDO MOURA – O Janela, e meu trabalho de pesquisa em geral, não é exatamente direcionado à pesquisa de um mercado específico (dito de outro modo, me interessam e interessam ao Janela tamanhos diferentes de filme, maneiras diversas de perceber e acessar o que podemos chamar, de maneira mais ampla, artes fílmicas), então como habitual vou distribuir a atenção entre diferentes seções. Tenho costumado acompanhar mais de perto a seção Forum, que trata do cinema independente com um interesse mais detido na pesquisa de formas, mas a nova seção Encounters se apresenta como outra constelação neste sentido.

Em geral me interessa até menos a competição oficial, onde os riscos são menores, e aliás a probabilidade dos filmes mais interessantes entrarem em cartaz no Brasil antes das datas do Janela é considerável, mas este ano há alguns bons filmes de interesse ali. Com isso quero dizer que também na competição oficial me parece que se investiu na exploração das relações entre crítica e poética, entre integração e dissidência, entre crise e clínica, e que fazem do cinema um bom território de questões e energias – ao menos se considerarmos os universos programados a partir de obras e circuitos pregressos. Me interessa perceber como o festival organiza essas relações dissensuais e como, em especial, os filmes as abordam e as provocam.

Claro, me interessam filmes, filmografias, diretoras e diretores específicos que trabalham na limitrofia, sejam seus programas artísticos mais ou menos convencionais, mais ou menos midiatizados, mais ou menos reconhecidos.

EUGÊNIA BEZERRA – Poderia comentar sobre como a presença em um festival internacional contribui para o trabalho de um curador? Imagino que, junto com a oportunidade de ver filmes de diversas partes do mundo, a possibilidade de conversar com artistas, curadores, críticos e o público deve ser algo enriquecedor…

LUÍS FERNANDO MOURA – Sim, é sempre uma maneira de pôr o olhar em movimento, de criar afinidades, de renovar e colocar em crise, no bom sentido, as percepções sobre as diferentes escalas de circulação e sobre os universos de criação.

EUGÊNIA BEZERRA – Falando especificamente sobre a sua experiência com o Janela, consegue identificar algum ponto em que a ida a Berlim teria contribuído para o seu trabalho, para seu olhar sobre o festival recifense ? 

LUÍS FERNANDO MOURA – A Berlinale é um festival que, obviamente, opera numa escala muito diferente da do Janela. Dito isso, os tantos festivais no interior da Berlinale, em particular as tantas seções, que são cada uma um festival, cada uma concebida sob certos critérios, buscas e desejos particulares, expõem também princípios próprios, inclinações políticas e um raciocínio próprios, uma cerimônia própria diante das ideias de organizar, exibir e apresentar filmes.

Para além de um ou outro filme, estas impressões em torno do ofício de curadoria são inevitavelmente apreendidas e levadas para o nosso exercício particular no Janela, um modelo de pôr filmes juntos que sinto que é muito nosso no festival, e que tem a ver com trabalhar numa escala pequena mas que seja capaz de articular tanto uma riqueza de modos e caminhos quanto propostas de desvio e pergunta, e que têm no horizonte tanto um diapasão global, atento aos intercâmbios, quanto à percepção do Recife, do público recifense, e do circuito e dos debates brasileiros, que nos movem localmente e como comunidade no interior de um estado e de um país.

Os festivais são pertinentes, no sentido de que eles só fazem sentido em certo espaço-tempo que é particular a eles, cada um deles, e nessa relação entre o próprio e o outro está a capacidade de uma curadoria mover ideias e experiências, que se espraiam pelas coletividades.

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