Semana de Economia Social & Solidária & Sustentável

20 a 24/10/2015 - Recife/PE - no Centro Cultural Brasil – Alemanha (CCBA)

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Economia solidária como resposta à crise

A crise que castiga os países do sul da  Europa há alguns anos vem estimulando também atividades de economia solidária. No caso, essa opção de empreendimento não se dá, em primeira instância, apenas por ideologia, mas se mostra como uma alternativa. Dados de âmbito nacional ainda não são comuns, e é fato que que os exemplos de projetos solidários não são exatamente uma resposta em larga escala aos problemas econômicos, mas iniciativas que estão se aglutinando e tentando fazer do enfrentamento das dificuldades uma tarefa menos árdua.

 

Os números*, embora sejam apenas um espelho frio do drama que atinge esses países, ajudam a traçar uma imagem do dia a dia dos seus habitantes. Nos últimos sete anos, o Produto Interno Bruto da Grécia caiu cerca de 25%, 52% dos jovens não têm emprego e 40% das crianças vivem abaixo da linha de pobreza. A Espanha, cujo desempenho econômico dá alguns sinais de melhoras, ainda tem quase um quarto da sua população ativa desempregada. No vizinho Portugal, a situação não é diferente: a taxa de desemprego real a chegou aos 29% no segundo semestre de 2014 e a taxa de jovens sem trabalho se posiciona nos 35%.

 

Georgia Bekidraki, representante da instituição Solidarity4all, é uma das que acredita que foram os buracos sociais gerados pela escassez que criaram espaços para atividades alternativas na Grécia, que atualmente enfrenta um duro plano de austeridade. Para ela, as cooperativas  são uma possibilidade de fuga em uma União Europeia (UE) que deixou claro que não há espaço para um modelo que não seja neoliberal. “É difícil falar de números, mas sei de pelo menos 300 iniciativas no país. Não acredito que essa seja uma crise do Sul da Europa, mas que toda a Zona do Euro está em crise. Temos que fazer algo à parte da UE, nos perguntarmos como criar outros mercados sociais”, argumenta.

 

“Na espanha, me parece claro que as empresas de economia solidária são um produto da crise”, pontua Gorka Pinillos, da Cooperativa Integral Catalana, que acrescenta que muitas cooperativas cresceram depois de 2008, ponto alto da depressão no país. A  XES (Rede de Economia Solidaria Catalã), com quase 400 associados, é um exemplo. “Redes de moedas sociais também se expandiram em vários territórios e estão avançando as experiências comunitárias que integram diferentes áreas, especialmente em Barcelona”, conta.

 

Na visão do ativista, dada a relação crítica entre governo e movimentos sociais, a possibilidade de pensar em políticas públicas de estímulo à ES na Espanha, como acontece no Brasil, não é crível. “Não existe interesse em fomentar essas ações”. A portuguesa Joana Dias, representante da Academia Cidadã, ressalta que essas iniciativas também não podem ser vistas pelo estado como possibilidade de se desresponsabilzar pela sociedade. “O Estado português tenta se livrar desse papel, passando essas competências para associações e iniciativas de base local. Estas, apesar de muito positivas, ainda são claramente residuais no panorama português, pois continuam a não chegar a quem mais precisa – às famílias que, por exemplo, não têm um único rendimento e que vivem na pobreza”.

 

À parte dessas observações, Joana também acredita que a  economia solidária se mostra como uma chance em relação à crise. “Até agora, os nossos políticos, para ultrapassá-la, têm utilizado medidas de austeridade, que claramente não funcionam. Por isso considero a economia solidária um meio valioso para ultrapassar a depressão econômica, ou, antes dessa vitória, permitir a sobrevivência aos efeitos da austeridade”.

 

*Os números e dados dessa matéria, assim como as entrevistas, foram apresentados durante os fóruns do Kongress Solidarische Ökonomie und Transformation Berlin 2015, e são oriundos dos Ministérios dos Trabalhos dos três países, Organização das Nações Unidas (ONU) e Unicef.

 

Hortas e jardins se tornam espaço de compartilhamento em Berlim

Na mesa, café, chá, frutas e um bolo de maçãs saído do forno. Ao redor dela, pessoas conversam e dividem os alimentos. O cenário é um jardim localizado em uma rua movimentada de Kreuzberg, que garante aos moradores da cidade o privilégio de ter contato com a terra, cultivá-la e colher os seu frutos, quando a natureza finalizar o seu trabalho. Mais ainda, propicia o contato com os vizinhos e a família. Em Berlim é cada vez mais frequente a criação de jardins coletivos, que se tornam um grande projeto de engajamento comunitário.

Aqui, o interesse é ocupar a cidade, disponibilizá-la a seus moradores. “A jardinagem não é o único objetivo: as pessoas querem trocar conhecimento umas com as outras, aprender coisas novas. É um projeto social, uma tarefa em que cada um é responsável por uma parte, todos devem contribuir. Isso é muito enriquecedor”, comenta Hanz Bauer, um dos responsáveis pelo Ton Steine Gärten. Cerca de 50 pessoas dividem esse espaço de cerca de 1.000 metros quadrados, e há ainda uma lista de espera.

É preciso também que se diga que nem tudo são flores. O Ton Steine Gärten, como muitos outros, é completamente aberto ao público. Muitas vezes, uma plantação de abobrinha ou de tomate cultivada semanas a fio desaparece sem deixar vestígios, deixando a pessoa que se dedicou a ela sem o fruto do seu trabalho. “Acontece. Somos também um projeto social, então prefiro pensar que talvez essa pessoa precisasse muito da comida. Mas claro, é desapontador”, pontua Hanz.

Perto, no Bunte Beete, crianças recebem dos pais as primeiras lições de como cultivar a terra. Aproveitam o contato com a natureza, fazem amigos. Anne Barbara, uma das organizadoras do jardim conta que, para quem tem família e filhos pequenos, o espaço é especialmente interessante. O lado difícil é que, como quase todo projeto coletivo, existem discordâncias: “Alguns trabalham pouco e outros trabalham muito. Mesmo assim, é recompensador ter acesso a uma horta dentro de Berlim”.

Voluntária em um jardim localizado nas proximidades da Warschauer Straße, Swantye Reuter ressalta que, ao mesmo tempo que se sente orgulhosa pelo bom trabalho e pelos elogios dos visitantes, eventualmente também se decepciona pela falta de cuidado de alguns, que pisoteiam os vegetais ou trazem animais que causam danos. Sob um pé de pêssegos e rodeada de ervas como lavanda e alecrim, ela explica que tudo é plantado em bases de madeira, já que o solo na área é contaminado por metais pesados como alumínio e chumbo. “A terra que usamos vem de fora daqui, para que possamos consumir os que plantamos. No caso das árvores é mais complicado, já que as raízes alcançam o solo”.

O mesmo acontece no jardim que fica no Tempelhofer Feld. No antigo aeroporto, não é permitido plantar diretamente no solo, mas sim em caixas de madeira – ou onde mais a imaginação permitir. Cerca de 25 pessoas dividem a tarefa de manter as plantas em forma. Alguns cuidam do cultivo, outros fazem a compostagem para garantir uma terra de boa qualidade para as plantações. Cerca de quatro vezes por ano, fazem um grande encontro para estabelecer vínculos e comemorar os resultados, que alegram também a vista dos frequentadores de um dos maiores espaços públicos de Berlim.

Solikon – O tour de bicicleta “Gemeinschaftsgärten als neue Allmenden” (Jardins coletivos como novos espaços comunitários) foi uma das atividades da Wandelwoche (Semana de Transformação) do Kongress Solidarische Ökonomie und Transformation Berlin, cuja cobertura especial está sendo divulgada no site do CCBA.

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