Na mesa, café, chá, frutas e um bolo de maçãs saído do forno. Ao redor dela, pessoas conversam e dividem os alimentos. O cenário é um jardim localizado em uma rua movimentada de Kreuzberg, que garante aos moradores da cidade o privilégio de ter contato com a terra, cultivá-la e colher os seu frutos, quando a natureza finalizar o seu trabalho. Mais ainda, propicia o contato com os vizinhos e a família. Em Berlim é cada vez mais frequente a criação de jardins coletivos, que se tornam um grande projeto de engajamento comunitário.
Aqui, o interesse é ocupar a cidade, disponibilizá-la a seus moradores. “A jardinagem não é o único objetivo: as pessoas querem trocar conhecimento umas com as outras, aprender coisas novas. É um projeto social, uma tarefa em que cada um é responsável por uma parte, todos devem contribuir. Isso é muito enriquecedor”, comenta Hanz Bauer, um dos responsáveis pelo Ton Steine Gärten. Cerca de 50 pessoas dividem esse espaço de cerca de 1.000 metros quadrados, e há ainda uma lista de espera.
É preciso também que se diga que nem tudo são flores. O Ton Steine Gärten, como muitos outros, é completamente aberto ao público. Muitas vezes, uma plantação de abobrinha ou de tomate cultivada semanas a fio desaparece sem deixar vestígios, deixando a pessoa que se dedicou a ela sem o fruto do seu trabalho. “Acontece. Somos também um projeto social, então prefiro pensar que talvez essa pessoa precisasse muito da comida. Mas claro, é desapontador”, pontua Hanz.
Perto, no Bunte Beete, crianças recebem dos pais as primeiras lições de como cultivar a terra. Aproveitam o contato com a natureza, fazem amigos. Anne Barbara, uma das organizadoras do jardim conta que, para quem tem família e filhos pequenos, o espaço é especialmente interessante. O lado difícil é que, como quase todo projeto coletivo, existem discordâncias: “Alguns trabalham pouco e outros trabalham muito. Mesmo assim, é recompensador ter acesso a uma horta dentro de Berlim”.
Voluntária em um jardim localizado nas proximidades da Warschauer Straße, Swantye Reuter ressalta que, ao mesmo tempo que se sente orgulhosa pelo bom trabalho e pelos elogios dos visitantes, eventualmente também se decepciona pela falta de cuidado de alguns, que pisoteiam os vegetais ou trazem animais que causam danos. Sob um pé de pêssegos e rodeada de ervas como lavanda e alecrim, ela explica que tudo é plantado em bases de madeira, já que o solo na área é contaminado por metais pesados como alumínio e chumbo. “A terra que usamos vem de fora daqui, para que possamos consumir os que plantamos. No caso das árvores é mais complicado, já que as raízes alcançam o solo”.
O mesmo acontece no jardim que fica no Tempelhofer Feld. No antigo aeroporto, não é permitido plantar diretamente no solo, mas sim em caixas de madeira – ou onde mais a imaginação permitir. Cerca de 25 pessoas dividem a tarefa de manter as plantas em forma. Alguns cuidam do cultivo, outros fazem a compostagem para garantir uma terra de boa qualidade para as plantações. Cerca de quatro vezes por ano, fazem um grande encontro para estabelecer vínculos e comemorar os resultados, que alegram também a vista dos frequentadores de um dos maiores espaços públicos de Berlim.
Solikon – O tour de bicicleta “Gemeinschaftsgärten als neue Allmenden” (Jardins coletivos como novos espaços comunitários) foi uma das atividades da Wandelwoche (Semana de Transformação) do Kongress Solidarische Ökonomie und Transformation Berlin, cuja cobertura especial está sendo divulgada no site do CCBA.