Para enfrentar os desafios mais comuns que aparecem na trajetória de empreendimentos sociais, a cooperativa alemã Betacoop eG decidiu tomar um rumo diferente de outras iniciativas da Economia Solidária.
A Betacoop eG aposta na maximização de lucros e que competir no mercado lado a lado com empresas convencionais. Eles se caracterizam como um “empreendimento de propriedade social” e adotam um modelo de gestão de negócio convencional, ou seja, de uma empresa que busca reduzir custos mirando o aumento dos lucros. Mas tudo isso com um objetivo muito claro: gerar lucros que sejam aplicados em projetos que acreditam.
Até hoje, são projetos sociais com crianças, refugiados, no campo cultural. Nunca de apoio a partidos políticos. O que garante a eficiência desse sistema é a separação entre a propriedade da Betacoop e a gestão. “Desde o início, foi colocado no nosso estatuto que o lucro não seria dividido entre os associados, mas colocado à disposição do bem comum”, conta Tina Pagel, Diretora da Betacoop eG.
“Nós nos consideramos uma empresa de propriedade social. Nós fazemos uma diferenciação entre propriedade e gestão. Nosso empreendimento quer maximizar os lucros, então nós estamos orientados para o lucro. A única diferença [de uma empresa comum] é que os nossos lucros são distribuídos para o bem comum seja através da promoção de atividades sociais e políticas, apoio a minorias”, explica Tina, reforça a ideia de que o que orienta o trabalho da cooperativa é a construção de um fundo de financiamento “porque é a parte mais forte, fundamental, do capitalismo – o financiamento”, como diz Tina.
A crítica comum de que, na Alemanha, se dedicar a construir empreendimentos sociais trata-se de um privilégio é rebatida com a certeza da posição adotada expressa na fala de Tina. “Nós não somos um pequeno empreendimento. Entendemos nosso empreendimento como para uma sociedade maior. Vendemos nossos produtos ecológicos, orgânicos, de fabricantes que utilizam seus lucros de forma social. Atendemos consumidores críticos e que tem poder aquisitivo maior que outras pessoas”, explica Tina Pagel.
Para a Betacoop, ainda que o produto final não seja de fácil acesso a quem tem poder aquisitivo menor, por exemplo, a estratégia adotada cumpre o papel de gerar lucros que são a parte do negócio em que podem aplicar no que acreditam.
Alternativas ao sistema financeiro: moeda social e banco ético
“O Objetivo da Betacoop é criar estruturas de financiamento alternativo para dar suporte ao desenvolvimento de empreendimentos de propriedade social”, explica Diretor da Betacoop eG Leipzig, Diego Galvez.
Assim surgiu a ideia de criar uma alternativa ao sistema financeiro: a moeda social Beta e p banco Betabank. Em 2012 nasce a moeda, que a princípio não teve muito sucesso e em 2013, então, o Betabank nasce com a proposta de ser um banco ético – tipo de banco que já existe em certo número na Europa.
De acordo com Diego, as moedas sociais funcionam como um programa de fidelização. “O objetivo de criar a moeda era que as pessoas que tivessem menos pudessem ter acesso a serviços que eles realmente precisavam. Quando tentamos aplicar essa moeda nós vimos que é preciso primeiro criar uma rede, as empresas precisam aderir à ideia. Elas oferecem para todos os mercados essas alternativas”, comenta Diego.
O Diretor da Betacoop eG Leipzig, Diego Galvez, conta que mesmo com o Betabank o modelo adotado não funcionou bem logo no início. “O sistema bancário é feito para os grandes”, diz ele. Como bancos cobram taxas por transações, ele explicou, você precisa de muitas pessoas que paguem por toda a estrutura de suporte de um banco. Além do financiamento da empreitada.
Como solução ao impasse a que chegaram, os ativistas e membros da Betacoop voltaram atrás e buscaram um outro formato para o Betabank. “Nós voltamos atrás e chegamos a um modelo como esse onde você fica pequeno, pode ser coerente e não precisa se preocupar com problemas de escala, de mercado, problemas que confrontam você com suas ideias e convicções. Então criamos outro banco, um banco sem taxas”, explica Diego.
Além do banco próprio, a Betacoop desenvolveram um sistema online de pagamento chamado Fairbill como alternativa as sites de pagamento online que cobram taxas de seus clientes. “A empresa que nos criamos foi capaz de cobrir as nossas compras, mas queremos ser também capazes de oferecer serviços de pagamento. Porque não fazer um pagseguro que não use os dados dos clientes, não tenha contas em um grande banco do sistema financeiro?”, questiona o diretor. O Fairbill tem como princípios a energia verde, o uso não comercial de dados dos clientes e pagamentos transparentes via bancos éticos. “Estamos oferecendo opção como dispor de serviços para empresas pequenas e médias que não teriam condições de pagar em um banco convencional”, finaliza.