Quando Philippe Werhahn ainda era um estudante de design moda, ele já tinha certeza que o seu trabalho seria guiado pelo conceito de sustentabilidade. Decidiu que faria alguma coisa para diminuir o impacto que causam as cerca de 700 mil toneladas de roupas que que são descartadas todos os anos na Alemanha. Resolveu apostar no Upcycling, um processo de recuperação em que os resíduos são transformados em produtos com maior valor que a matéria prima original. Assim surgiu, em 2006, a Ting Ding, cujo conceito não era apenas subverter o curto ciclo de vida de uma peça de roupa, mas também o seu contexto: camisas masculinas viram vestidos, calças se tornam blusas, camisetas e blusas, juntas, dão forma a vestidos.
As peças que serão transformadas chegam até Philippe por doação e a escolha delas geralmente se dá por algum detalhe inusitado, seja o design, a estampa ou toque do material. Poucos anos depois do início da Ting Ding, ele se juntou com um amigo e decidiu dar um novo passo: criar a Kollateralschaden, cujo nome (Danos colaterais) já deixa claro uma boa dose de provocação. Os produtos são feitos de algodão orgânico, com uma modelagem ao mesmo tempo básica e atemporal e, mais ainda, alguns deles são multifuncionais, como vestidos que viram blusas ou pulôveres que podem ser utilizados em suas duas faces, um trabalho de descontextualização que já era presente desde o início com a Ting Ding.
Ambas as marcas convivem no ateliê de Phillipe, em Neukölln, Berlim. Dos consumidores da Kolla, como o designer chama carinhosamente a loja, cerca de 70% são mulheres e a maioria delas têm entre 30 e 65 anos. Geralmente, têm o estilo bem definido, sabem o que querem e investem em roupas duráveis. A marca ainda oferece uma garantia permanente, como mais uma forma de fidelizar os clientes e estender a vida útil das roupas. Embora o preço de material de qualidade, profissionais bem pagos e cadeia de produção justa seja superior aos praticados pelas lojas de departamento, o empreendedor não tem do que reclamar. As vendas, sejam em feiras pela Alemanha, Suíça e Áustria, na própria loja ou pela internet, seguem em alta.
“Desperdiçar resíduos é desperdiçar recursos. Além do impacto ao meio ambiente, muitas empresas exportam roupas descartadas para a Africa ou Ásia e acabam destruindo mercados domésticos. Queremos ser uma opção sustentável, seja pelo upclycling, no caso da Ting Ding, seja na construção de peças novas que são atemporais e podem ser usadas para sempre, no caso da Kollateralschaden”.
Produção consciente e reaproveitamento de recursos é também o que move Britta Eppinger, que à frente da marca Bolsos, transforma os mais variados materiais que iriam para o lixo em mochilas, sacolas, porta-moedas e carteiras. Curiosamente, boa parte do material que ela transforma são restos de propaganda publicitária, como banners e sobras de cenário decorativos, além de outros elementos mais originais, como lona de velas de embarcações. No dia da visita à loja, seu novo desafio era transformar antigas mangueiras de caminhão de bombeiro em um adereço fashion.
“Só posso decidir o que fazer quando toco o material. Ele me diz o que vai ser mais interesssante de ser criado. Daí, posso me decidir uma impressão de estampa ou aproveitar sua textura original. Cada vez que esse processo é iniciado, não sei exatamente no que ele vai dar”, conta Britta. Sobre a sobrevivência de um negócio sustentável, ela conta que nem sempre é fácil pagar as contas. “Nem todo mundo entende que um trabalho feito a mão não pode ter o mesmo preço de algo industrializado feito por trabalhadores explorados. Posso dizer que trabalho com o que gosto. Talvez se eu tivesse que alimentar uma família seria mais complicado. Mas mesmo assim, consigo sobreviver. Ao longo dos anos, estabeleci uma clientela que procura produtos bem-humorados e divertidos”.