Diversidade etnolinguística dos povos indígenas é tema de palestras e debate

Como parte da programação da mostra Curt Nimuendajú – Reconhecimentos, o Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA) promove, na terça-feira (7/5), o conjunto de palestras Indígenas em Pernambuco e a Diversidade Etnolinguística no Brasil. No encontro, que começa às 17h e é aberto ao público, serão apresentadas a Plataforma Digital Interativa da Diversidade Linguística no Brasil e a nova edição do Mapa Etno-histórico do Brasil e Regiões Adjacentes (foto).

A plataforma e a publicação foram lançadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As iniciativas fazem parte das ações de reconhecimento da diversidade linguística brasileira enquanto referência cultural, conforme disposto no Decreto nº 7.387 / 2010.

O diretor do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan (DF), Hermano Queiroz, o antropólogo da Divisão Técnica de Diversidade Linguística do Iphan, Marcus Vinícius Carvalho Garcia, e a superintendente do Iphan e Pernambuco, Renata Duarte Borba, conduzem esta parte do evento.

As primeiras 40 pessoas que chegarem ao evento vão receber um exemplar do livro com o mapa elaborado pelo antropólogo brasileiro de origem alemã Curt Nimuendajú.

Também foram convidados representantes dos Fulni-ô e dos Xukuru, professores especializados em educação indígena e os antropólogos Peter Schröder (UFPE) e Vânia Fialho (UFPE).

PROGRAMAÇÃO

17h às 19h30

Curt Unckel / Nimuendajú – aproximações biográficas
Peter Schröder (PPGA/DAM/UFPE)

Pernambuco – Presença Indígena, Conflitos Socioambientais e Ações Coletivas
Vânia Fialho (UPE + PPGA/UFPE)

O Mapa Etno-Histórico elaborado por Curt Nimuendajú e a Plataforma Digital Interativa da Diversidade Linguística no Brasil
Marcus Vinícius Carvalho Garcia (Iphan)

Intervalo

20h às 21h30

Mesa redonda com representantes dos povos indígenas

Confraternização

Trajetória do antropólogo Curt Nimuendajú inspira exposição do CCBA

Foto: Acervo do Museu do Estado de Pernambuco

O jovem Curt Unckel (1883-1945) migrou da Alemanha para o Brasil aos 20 anos e, não muito tempo depois de chegar ao País, decidiu viver entre os Apapocuva-Guarani na região do Rio Batalha (SP). Durante um ritual naquela aldeia, recebeu o nome que passou a utilizar na trajetória de pesquisador que iniciava de maneira autodidata: Nimuendajú – “aquele que veio a sentar (entre nós)”. Essas e outras passagens da vida do antropólogo são contadas na exposição Curt Nimuendajú – Reconhecimentos, que será inaugurada na quinta-feira (28/3), às 19h30, no Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA). O evento é aberto ao público, com entrada gratuita.

Na sexta-feira (29/3), representantes de povos indígenas de Pernambuco se reúnem para trocar experiências em uma oficina na sede do CCBA. Esse é o único evento fechado na programação da mostra. No sábado (30/3), às 18h30, o espaço cultural sedia a mostra audiovisual Povos Indígenas no Cinema: filmes & debate.

“Mais de quatro décadas dedicadas à etnologia indígena, com pelo menos 34 pesquisas de campo majoritariamente pioneiras sobre mais de 50 etnias e um grande número de publicações, renderam a Curt Nimuendajú, ainda em vida, o reconhecimento como uma das maiores autoridades da Etnologia dos povos indígenas no Brasil na primeira metade do século 20”, afirma o professor Peter Schröder, curador da mostra e docente do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Na noite de abertura da exposição, Peter Schröder lança o livro Os Índios Xipaya – cultura e língua (Editora Curt Nimuendajú). Para a obra, ele traduziu cinco textos de Curt Nimuendajú que foram originalmente publicados no periódico Anthropos, de 1919 a 1929. “É a primeira vez que o conjunto desses artigos é apresentado em língua portuguesa numa edição crítica, junto com uma introdução que contextualiza a história e o estilo dos textos. Trata-se de trabalhos clássicos da antropologia sul-americana, caracterizados pela influência, ainda predominante, da etnologia alemã”, explica Peter Schröder.

Sobre as contribuições de Curt Nimuendajú para a antropologia brasileira, o professor avalia: “Ele é visto como uma figura pioneira para a formação da etnologia indígena. Apesar do fato de que os textos dele hoje em dia exigem uma reavaliação crítica de seus pressupostos teóricos, muitas vezes implícitos, a qualidade de suas etnografias ou de obras como o Mapa Etno-Histórico não é questionada. Pelo contrário, ele continua sendo um autor muito citado. O fato de ele ter sido autodidata mostra como as práticas científicas mudaram”.

Casa onde nasceu Curt Nimuendajú, em Jena, é identificada por uma placa comemorativa. O jovem costumava ler na biblioteca da Volkshaus (“casa do povo”), fundada por Ernst Abbe (à direita). Fotos: Peter Schröder.

Mapa Etno-Histórico

 O Mapa Etno-Histórico do Brasil e Regiões Adjacentes ganhou uma nova edição em 2017, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e será tema de um encontro aberto ao público, na terça-feira (7/5), como parte da programação da mostra Curt Nimuendajú – Reconhecimentos. Um dos originais foi destruído no incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro, assim como grande parte do material produzido pelo pesquisador, pois o espólio dele foi adquirido pela instituição e nem tudo havia sido digitalizado. Os demais pertencem aos acervos da Smithsonian Institution (Washington, EUA), do Museu do Estado de Pernambuco e do Museu Paraense Emílio Goeldi.

O mapa elaborado artesanalmente foi inscrito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Programa Memória do Mundo. Ele é um dos 12 temas selecionados pelo professor Peter Schröder para apresentar o trabalho do antropólogo alemão em uma mostra conectada ao Brasil contemporâneo.

“Em certo sentido, Nimuendajú e seu interesse pela diversidade social e cultural indígena, seus esforços de levantar informações sobre línguas indígenas, mesmo de forma fragmentária, continua atual, sobretudo numa sociedade que ainda tem grandes dificuldades de aceitar diferenças sociais e culturais. E isto torna-se ainda mais evidente no atual cenário político com suas polarizações e manifestações explícitas de intolerâncias e preconceitos”, compara o professor.

Confira os detalhes da programação completa.