Texto: Eugênia Bezerra
Com o tema Festivais de Cinema – Retrospectivas / Perspectivas, o Kulturforum de segunda-feira (2/7) configurou uma oportunidade de troca a partir dos relatos da jornalista Luciana Veras, que acompanhou a Berlinale 2018 a convite do CCBA em parceria com a Revista Continente. Nessa edição do Kulturforum sobre a Berlinale, ela compartilhou suas experiências em diálogo com o artista multimídia André Aguiar, que prepara a primeira edição do Guiar – Festival Internacional de Screendance. O evento ocorre de 9 a 13 de outubro de 2018, no Recife, e André participa do Laboratório de Performance Urbana do CCBA.
A maneira como a capital alemã abraça a Berlinale foi uma das questões que chamaram a atenção de Luciana Veras em sua primeira cobertura do evento. Em termos estruturais, é preciso organizar cada parte da engrenagem para manter o todo funcionando.
Trata-se de um festival multilíngue, com exibições em várias salas de cinema (a maior parte das sessões ocorre na região da Potsdamer Platz). Ele reúne artistas, curadores, exibidores e jornalistas de várias partes do mundo. Em 2018, por exemplo, havia mais de 4 mil profissionais da imprensa credenciados, 19 filmes em competição e 47 no Panorama, além das obras que integravam outras mostras.
Entre exibições exclusivas para o mercado e sessões abertas ao público, os encontros da Berlinale oferecem aos realizadores uma perspectiva de participação em outros festivais ao redor do mundo.
Além disso, possibilitam momentos únicos de diálogo com os artistas e sessões especiais como a exibição de uma cópia restaurada de Asas do Desejo com presença do cineasta alemão Wim Wenders.
Luciana Veras também destacou o fato de que obras de várias nacionalidades dialogavam entre si pela abordagem de temas contemporâneos. A jornalista citou como exemplo a programação da mostra Panorama, uma janela de exibição muito cobiçada pelos realizadores, que segue um eixo bastante político (no sentido amplo da palavra, não apenas o da política partidária).
Em 2018, a curadora espanhola Paz Lázaro selecionou para o Panorama alguns filmes brasileiros com temáticas como a questão indígena, intolerância religiosa, o corpo negro, as periferias, normatividade, política e poder.
Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi, conta a história de um pajé que passa a refletir sobre sua fé após o contato com brancos que afirmam que a religião dele é demoníaca. Bixa Travesty, dirigido por Kiko Goifman e Claudia Priscilla, documenta a trajetória da cantora Linn da Quebrada, transexual e negra. O Processo, de Maria Augusta Ramos, mostra os bastidores do que acabou na destituição da presidente Dilma Roussef (o filme recebeu aplausos de pé por 10 minutos em Berlim).
FUTURO
Durante o Kulturforum também houve uma prospecção sobre os rumos da Berlinale, assim como da continuidade da parceria entre o CCBA e a Revista Continente. O futuro do festival já começou a ser delineado. A 69ª edição acontece de 07 a 17 de fevereiro de 2019 e será o último ano em que o evento ficará sob direção de Dieter Kosslick.
Em 2020, o italiano Carlo Chatrian e a holandesa Mariette Rissenbeek assumem os cargos de diretor artístico e diretora executiva do festival. Carlo Chatrian é um jornalista especializado em cinema, diretor do Festival de Cinema de Locarno desde 2013. Mariette Rissenbeek dirigiu a German Films, centro para distribuição internacional dos filmes alemães, e tem muita experiência trabalhando com festivais ao redor do mundo. Ela se torna a primeira mulher diretora da Berlinale.
“Com nossos dois novos diretores, nós teremos a certeza que a Berlinale continuará sendo após 2019, último ano com direção de Dieter Kosslick, um festival voltado para o público, com foco político e uma programação ambiciosa, que continuará em desenvolvimento”, afirmou, no anúncio dos novos nomes, a Ministra da Cultura Monika Grütters.
Leia todos os textos sobre a Berlinale 2018 escritos pela jornalista Luciana Veras, que cobriu o evento a convite do CCBA e da Revista Continente.http://revistacontinente.com.br/coberturas/berlinale-2018