Por Marina Mahmood
O evento ocorreu em Dezembro de 2022 no Centro Cultural Brasil Alemanha (CCBA) e gerou o debate em torno de perspectivas para as políticas públicas culturais em novos cenários políticos no Brasil e em Pernambuco.
Iniciado como uma conversa informal, o debate contou com a presença de um público diverso: desde artistas das linguagens da dança, performance, cultura popular, artes visuais, fotografia e cinema à produtores culturais e profissionais ligados às áreas da tecnologia e da agroecologia.
No primeiro momento, houve a troca de experiências entre os convidados que apresentaram-se falando de seus trabalhos em desenvolvimento e pesquisas. Um dos convidados foi Cahú Victor, coordenador do LOUCo (Laboratório de Objetos Urbanos Conectados), sediado no Núcleo de Gestão do Porto Digital – NGPD. Cahú falou um pouco sobre o LOUCo, um laboratório de tecnologia que apresenta uma série de equipamentos disponíveis para o uso do público geral, além de visitas agendadas previamente por e-mail.
Laboratório de Objetos Urbanos Conectados, no Porto Digital, Recife Antigo.
Saiba mais sobre o LOUCo:
O laboratório funciona na Rua do Apolo, 235, bairro do Recife e é equipado com impressora 3D, cortadora a laser, fresa CNC, fresa para placa de circuito impresso, biblioteca de componentes eletrônicos e bancada de testes de equipamentos eletrônicos. Para agendamento de visitas e utilização de equipamentos é necessário entrar em contato pelo e-mail: louco@portodigital.org. Página do Instagram: @portodigitalouco
Renata Gamelo, também convidada, apresentou o seu projeto La Ursa Tours: projeto de passeios turísticos de bicicleta que aproximam os turistas da realidade, cultura e geografia urbana, oferecendo uma experiência original dentro das cidades de Recife e Olinda.
Saiba mais sobre o La Ursa Tours:
Site: https://www.laursatours.com/
Instagram: https://www.instagram.com/laursatours/
Após as apresentações individuais dos 13 participantes, a temática da conversa girou em torno dos financiamentos culturais: o grupo apontou sobre a dificuldade do artista manter a continuidade de suas obras dependendo apenas dos editais públicos de incentivo à cultura. E que geralmente aprova-se a realização/criação de uma obra, mas após criada, o artista encontra dificuldades para aprofundá-la e distribuí-la por não ter mais apoio financeiro. Em muitos casos, a obra fica parada depois do primeiro incentivo.
Iara Izidoro (curadora, artista da performance e da dança) comentou que atualmente na cidade do Recife a maioria dos coletivos artísticos reúnem-se apenas quando algum projeto é aprovado e que não existe a constância dos encontros, o que dificulta o desenvolvimento das criações.
Uma saída para resolver parte desses problemas seriam as cooperações internacionais, que poderiam expandir as possibilidades de financiamento artístico e ampliar o mercado. Porém, ainda há pouco conhecimento sobre como firmar essas parcerias (principalmente no campo das artes cênicas, da dança e da performance).
O grupo discutiu sobre a necessidade de mais transparência quanto aos gastos e decisões na política pública, assim como de mais participação popular na elaboração das políticas culturais. Uma das convidadas propôs que houvesse uma divisão mais igualitária e constante dos recursos públicos para a cultura do estado de Pernambuco, apontando que o recurso financeiro é concentrado para as festividades do Carnaval e que no restante do ano a cultura recebe pouco investimento.
Outro ponto defendido foi a importância da oferta de capacitações sobre os editais públicos de financiamento para os fazedores de arte da cultura popular, principalmente de cidades do interior do estado. As capacitações, oferecidas pela gestão cultural do estado, poderiam evitar que esses artistas não se tornassem vítimas da apropriação cultural.
Segundo Fernando Cavalcanti, artista da cultura popular, infelizmente tornou-se comum que artistas e produtores das grandes cidades, “bebam” dos conhecimentos ancestrais de mestres e mestras da cultura popular mas não revertam nenhum ganho – seja financeiro ou de reconhecimento artístico – para as pessoas que seriam “a base” e referência de suas pesquisas.
Kulturforum CCBA, dezembro de 2022 – Fotos: Marina Mahmood/CCBA
Ainda que existam muitas problemáticas a serem solucionadas na gestão e efetivação das políticas públicas na arte, o grupo mostrou-se otimista diante do novo cenário político nacional: a medida que o ministério da cultura, extinto no governo de Bolsonaro, foi recriado pelo atual presidente Lula. E com a liberação de recursos para alguns órgãos importantes, também paralisados no governo passado, como a Ancine (Agência Nacional do Cinema). É um consenso para os participantes, que a nova gestão apresenta um olhar mais sensível para a cultura do país.
Para finalizar, Christoph Ostendorf (diretor do CCBA) apresentou a diversidade dos projetos com os quais o centro está envolvido e que pretende dar continuidade durante o ano de 2023. O espaço do Kulturforum faz parte do planejamento anual do CCBA e intenciona criar debates em torno de diferentes temáticas envolvendo a cultura contemporânea, voltado para agentes da cena cultural e ao público interessado.
Já em Fevereiro de 2023, uma das iniciativas do centro é o envio de Thaís Vidal (ex-aluna do CCBA, roteirista e produtora de cinema) para o aclamado Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), na Alemanha. A proposta é que Thaís abra canais de comunicação entre os festivais alemães e a produção cinematográfica recifense, firmando possíveis parcerias como por exemplo o intercâmbio de filmes e de realizadores audiovisuais da Alemanha para o Brasil.