Para o climatologista Carlos Nobre já estamos vivendo no ¨Antropoceno¨, período que revela os impactos da ação humana no sistema terrestre e que tem como  principal característica período não necessariamente o aumento da temperatura da terra, mas a velocidade muito acelerada deste processo.

Pesquisador Carlos Nobre

Pesquisador Carlos Nobre

“O clima já está respondendo à ação humana”, garantiu o pesquisador durante o workshop ¨Desafios Climáticos: Aviação Civil e perspectivas para diminuição de impactos ambientais e compensações¨, realizado no Centro Cultural Brasil – Alemanha (CCBA) no Recife em dia 16 de março de 2017.

 

A exposição do climatologista, disponível na íntegra no canal youtube do CCBA, abrangeu os seguintes pontos:

  1. Introdução
  2. As causas do aquecimento global
  3. Projeções futuras globais e para o Brasil
  4. Há limites para a adaptação?
  5. O Acordo de Paris e seus desafios
  6. Biocombústíveis de aviação e a Amazônia
  7. Energias renováveis e desenvolvimento sustentável no Nordeste
  8. Mudanças climáticas e o Governo Trump

Nobre explanou com dados e gráficos o impacto da ação humana no aumento da temperatura da Terra, como os gases do efeito estufa (metano, CO2) e os aerossóis, que não chegam nem perto do dano causado por fatores naturais como as variações orbitais, o sol e os vulcões. De acordo com o palestrante, se as emissões seguirem a trajetória de aumento atual, a previsão é que em 2100 a temperatura global aumente até 9ºC.

Buscando soluções para esse problema, o Acordo de Paris, assinado em 2016, uniu as nações para estabelecer a adoção de metas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Com o objetivo de conter o aumento da temperatura média global em 1,5ºC a 2ºC o acordo exige a implantação de políticas climáticas nacionais com as chamadas ¨Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDCs conforme a sigla inglesa).

Para o Brasil Nobre reforça a necessidade do reflorestamento de 12 milhões de hectares de florestas e a total contenção do desmatamento até 2030 assim como a substituição das fontes de energias fósseis por fontes de energia renováveis.

Quanto à produção de biocombustíveis na Amazônia o pesquisador enxerga mais riscos do que chances e sugeriu como contraproposta a utilização dos mecanismos de compensação de emissões da aviação internacional através do mercado emergente de carbono para acelerar o processo de reflorestamento e o monitoramento ambiental para chegar ao desmatamento zero.

Comentando em seguida as energias renováveis e desenvolvimento sustentável no Nordeste Nobre assinala o extraordinário potencial da região para a produção de energia eólica e solar. Para o pesquisador a implantação das energias renováveis repercutirá na criação de novos empregos de boa qualidade. Além disso as energias renováveis podem ser usadas na agricultura familiar e para melhorar o fornecimento e a qualidade da água. Assim, a ampliação da geração de energia renovável no Nordeste se tornaria um importante fator econômico. Mesmo apontando essas esperanças Nobre não deixou de mencionar que a implantação das energias renováveis ocorre hoje frequentemente em prejuízo da população local que recebe valores injustos para o arrendamento das suas terras ou é forçado a deixar as áreas que são usadas para parques eólicos ou áreas com paineis fotovoltaicos.

Por último Nobre reservou ainda parte da sua palestra para avaliar os riscos do Governo Trump para as políticas climáticas e o Acordo de Paris comparando o Presidente americano com a sua posição ambígua e negacionista das ciências ao ex-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki que durante o seu governo entre 1999 e 2008 negou o Virus HIV como causa da AIDS o que resultou no atraso de políticas de saúde pública e na morte de mais de 300.000 pessoas.

Enquanto Trump e boa parte da sua equipe negam as mudanças climáticas Nobre avalia que existem sérios riscos para o Acordo de Paris e as políticas climáticas globais.