Um dos temas da Berlinale este ano parece ser a tomada de consciência como prerrogativa para mudanças pessoais ou coletivas – quando não as duas.
Em “L’ avenir” (O que está por vir), a diretora francesa Mia Hansen-Løve exercita um olhar generoso sobre uma mulher bastante ativa (Isabelle Huppert), professora de filosofia sufocada entre compromissos acadêmicos e familiares.
O tom nao é melancólico nem otimista, mas de afetividade tranquila, o filme situa a protagonista no espectro entre a Geração Z e a de Maio de 68.
Entre lidar com alunos em greve, um casamento em crise e cuidar da mãe idosa, Nathalie encontra seu devir e nele a oportunidade de emancipação. Os encontros com o jovem pupilo (Roman Kolinka) inspiram horizontes e apontam para um novo ciclo.
O mundo não está bem, e a imagem de Isabelle Huppert correndo angustiada pelas ruas de Paris é uma boa forma de representar isso.
Mas por outro lado está em movimento ininterrupto, e Rousseau, Schopenhauer, Proudhon e música folk surgem entre as tantas referências para o reencontro existencial.
Parece complicado mas Hansen-Løve teve a sensibilidade de colocar pontos de interrogação nos lugares certos, gerando um filme fluente, ao mesmo tempo profundo e acessível.
* Visto no Berlinale Palast, Potsdamer Platz, em 13/02/2016