Ilusões perdidas

201613909_1_IMG_FIX_700x700

Após uma sequência de filmes introspectivos e de humor sutil, em “Hail Caesar!” os Irmãos Coen retornam à vibração amalucada de “Queime depois de ler” e “E aí meu irmão, cadê você?”, direcionando seu senso de ironia e subversão para prestar homenagem à Hollywood dos anos 1950.

Ao estabelecer regras próprias para a narrativa e mise-en-scène da antiga fábrica dos sonhos, várias pistas reafirmam sua arte como um corpo estranho fincado na indústria cinematográfica.

Em “Hail Caesar!”, a devoção pelo cinema de gênero encontra na alternância o dispositivo principal. Entre o noir, o musical, o épico e o faroeste, é como se o filme trocasse de figurino de forma impecável, a cada 10 minutos. Não se trata de mistura, mas de uma colagem muito bem definida de referências, que em algum momento esborram umas nas outras, quebrando a ilusão do entretenimento.

A ação se reveza em diferentes estúdios: George Clooney é um ator raptado durante as filmagens de um épico romano; outra produção traz Scarlett Johansson e Channing Tatum em incríveis performances musicais; e Alden Ehenreich como um jovem ator de faroeste desastradamente escalado para protagonizar um drama.

Cabe a um executivo da Capitol Studios (Josh Brolin) lidar com o sumiço de Clooney enquanto impede duas jornalistas de celebridade gêmeas (Tilda Switon) de inventar fofocas sobre os atores. Vestido de gladiador, Clooney evoca Kirk Douglas; por sua vez Brolin incorpora Eddie “The fixer” Mannix, personagem real que tinha a missão de manter a vida privada dos famosos longe dos tabloides.

Além das coreografias de Johansson e Tatum, “Hail Caesar!” compõe uma representação fascinante e tresloucada da “ameaça comunista” em Hollywood, foco em um grupo de roteiristas convictos em acelerar o processo revolucionário. A impressão é a de visitar um museu temático de personagens caricatos que não deixaram de existir: apenas se renovaram.

* visto no CinemaxX 3, Potsdamer Platz, em 11/02/2016


Warning: count(): Parameter must be an array or an object that implements Countable in /home/ccba/public_html/conexaoberlinale2016/wp-includes/class-wp-comment-query.php on line 399

2 Comments

  1. Nada melhor do que começar com os Irmãos Coen!

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

*