O Urso de Ouro foi para o italiano “Fuocoammare“, de Gianfranco Rosi, documentário sobre fugitivos que tentam entrar na Europa pela Ilha de Lampedusa. É incomum um filme de não-ficção ganhar o prêmio máximo em grandes festivais. É verdade que o também italiano “César deve morrer”, dos irmãos Taviani levou o Urso de Ouro em 2013, mas ali havia uma proposta híbrida de encenação com presidiários. E “Fuocoammare” é um filme 100% documental, que alterna entre o cotidiano de um morador da ilha, um garoto italiano alheio à estas situações e o resgate e triagem de refugiados africanos.
“Fuocoammare” não é o melhor filme da competição oficial da Berlinale e tampouco sobre a crise dos refugiados (dos que vi, gosto muito de “Havarie“). No entanto este é o principal tema não apenas da Berlinale, mas da Alemanha, o país que mais recebeu asilados na Europa. E Ursos políticos tem sido comuns nos últimos anos. Presidente do júri, Meryl Streep é uma atriz politicamente engajada, então entende-se a decisão, que privilegiou a dimensão estética nos demais prêmios.
É o caso da produção filipina com oito horas nada cansativas de duração, “A lullaby to the sorrowful mistery”, de Lav Diaz, que ganhou o Prêmio Alfred Bauer para filmes que abrem novas perspectivas. Em preto-e-branco fantástico, o filme narra a revolução filipina de 1896-98. Entre fantasmas, mitos e consequências, há belas reflexões sobre criação artística e o cinema enquanto ilusão compartilhada.
Independente do reconhecimento do júri já havia sido um grande acerto e uma demonstração de coragem por parte do festival em tê-lo selecionado para a mostra oficial competitiva. Já que o circuito comercial de cinemas jamais programará um filme com tamanha duração, cabe aos eventos – e posteriormente à internet, disponibilizar e repercutir esta obra cujo poder é, da primeira à última instância, o de renovar a crença na imagem cinematográfica.
Pessimistas (“Morte em Sarajevo” e o polonês “United States of Love”) ou otimistas (“L’avenir” e “Koletivitet”), os premiados refletem a seleção deste ano, formada por filmes que, espelhos ou martelos, recaem sobre mundos em convulsão.
Lista dos premiados
Mostra Oficial de Longas
Urso de Ouro: Fuocoammare (Itália), de Gianfranco Rosi
Grande Prêmio do Júri: Morte em Sarajevo (França, Bósnia e ), de Danis Tanović
Prêmio Alfred Bauer para filme que abre novas perspectivas: A Lullaby to the Sorrowful Mystery (Filipinas), de Lav Diaz
Direção: Mia Hansen-Løve por “L’avenir” (França)
Atriz: Trine Dyrholm por “Kollektivet” (Dinamarca), de Thomas Vinterberg
Ator: Majd Mastoura por “Hedi” (Tunísia), de Mohamed Ben Attia
Roteiro: Tomasz Wasilewski por “United States of Love” (Polônia), de Tomasz Wasilewski
Urso de Prata pela excepcional contribuição artística: Mark Lee Ping-Bing, pela fotografia de “Crosscurrent” (China), de Yang Chao
Melhor filme de estreia (€ 50,000 pelo GWFF): “Hedi” (Tunísia), de Mohamed Ben Attia
Competitiva de Curtas
Urso de Ouro: “Balada de um Batráquio” (Portugal), de Leonor Teles
Urso de Prata (prêmio do júri): “A Man Returned” (Inglaterra, Dinamarca, Holanda), de Mahdi Fleifel
Informações completas no site da Berlinale
23 de fevereiro de 2016 at 23:41
Parabéns a cobertura do ccba.
As críticas de André Dib, sempre superando as expectativas.