Filmes “autorais, independentes, experimentais, ousados, engajados politicamente e inovadores” estão no radar do Animage – Festival Internacional de Animação de Pernambuco. A 9ª edição do evento ocorre de 12 a 21 de outubro no Recife, com atrações distribuídas em centros culturais, cinemas e espaços abertos. O alemão Jonatan Schwenk participa do evento como uma mostra específica na Caixa Cultural, no Bairro do Recife, onde ele também ministra uma oficina sobre stop motion.
Junto com a Mostra Especial Jonatan Schwenk, a produção alemã no cinema de animação é representada pela Mostra Especial Best of Baden-Württemberg. Ela oferece um panorama com novos curtas-metragens produzidos pelo Instituto de Animação da Academia de Cinema de Baden-Württemberg. A exibição no Recife é fruto de uma parceria com o Internationales Trickfilm-Festival Stuttgart, um dos maiores festivais da Alemanha.
ANIMAGE 2018
Além da Caixa Cultural, o Cinema da Fundação, a Praça da Várzea, o Parque Santos Dumont e o Parque da Macaxeira recebem o Animage na capital pernambucana em 2018. A programação é composta por uma mostra competitiva de curtas-metragens, com 90 filmes, de 32 países, e mostras especiais de curtas e longas (como a Brasil, Africana, Pernambucana e Erótica). O público pode assistir a filmes como Yellow Submarine, em cópia restaurada no aniversário de 50 anos da obra; Tito e os Pássaros, de Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto; Guaxuma, de Nara Normande; e A Cidade dos Piratas, de Otto Guerra, baseado na vida e obra da cartunista Laerte Coutinho. Este ano foram selecionados oito longas.
“Na programação percebe-se que a produção contemporânea de animação continua a exercer uma liberdade plena de expressão e também está bem próxima da realidade social, como demonstram os vários filmes realizados a partir de entrevistas, depoimentos e processos normalmente mais utilizados por documentários”, comenta o curador do festival, Júlio Cavani, que completa: “Ao mesmo tempo, o experimentalismo abstrato, os exercícios estéticos de estilo e o humor cartunesco continuam bastante presentes”.
O Animage 2018 tem uma sessão com audiodescrição e uma com legendas para surdos e ensurdecidos. Os organizadores promovem oficinas nos hospitais Agamenon Magalhães e IMIP e uma mostra para os alunos da Escola de Ensino Médio Martins Júnior, no bairro da Torre. A parte de formação conta com oficinas, masterclasses debates. No interior pernambucano, recebem mostras especiais do Animage Triunfo (Cine Teatro Guarany, de 26 a 28 de outubro), Belo Jardim (Instituto Conceição Moura nos dias 26 e 27 de outubro) e Caruaru (Armazém da Criatividade nos dias 30 e 31 de outubro).
Animage – 9º Festival Internacional de Animação de Pernambuco
Data: 12 e 21 de outubro de 2018
Programação: www.animagefestival.com
Ingresso: R$ 5 (único) para as sessões no Cine São Luiz e Cinema da Fundação, as demais são gratuitas. Os bilhetes são disponibilizados no local, uma hora antes da exibição.
Endereços: Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife. Fone: 3425-1915), Cine São Luiz (Rua da Aurora, 175, Boa Vista. Fone: 3184-3157), Cinema da Fundação (Rua Henrique Dias, 609, Derby. Fone: 3073-6420), Praça da Várzea (Avenida Afonso Olindense, Várzea), Parque Santos Dumont (Rua Almirante Nelson Fernandes, Boa Viagem), Parque da Macaxeira (Avenida Norte Miguel Arraes de Alencar, Macaxeira)
Entrevista com Jonatan Schwenk
Eugênia Bezerra – Você poderia falar um pouco mais sobre os filmes que exibirá no Animage, como eles representam sua arte e interesses seus?
Jonatan Schwenk – Estou muito feliz por ter sido convidado para o Recife para dar um workshop e exibir meu trabalho em uma mostra especial. Eu vou mostrar desde meus estudos até os trabalhos de agora, muitos deles foram feitos em stop motion, alguns são híbridos. Também mostrarei uma primeira versão editada de um making of do meu filme mais recente, Sog, que dá uma visão dos bastidores. Além disso, apresentarei alguns filmes de outros diretores com quem trabalhei, de diferentes partes do mundo, todos após a estreia na Berlinale.
Para completar a sessão, também exibirei algumas animações de outros diretores alemães. Os mostrarei como meus favoritos na cena da animação alemã contemporânea, mas a lista de festivais dos quais eles participaram recentemente mostra que eu não sou o único que os admira.
Eugênia Bezerra – Como tem sido a experiência com o workshop no Recife?
Jonatan Schwenk – Os participantes do workshop são pessoas muito amigáveis e criativos muito entusiasmados. Talvez pelo fato de que quase não há escolas de animação no Brasil as pessoas aqui estejam tão motivadas a aprender novas coisas sobre animação.
Eugênia Bezerra – Muitos de nós tivemos nosso primeiro contato com cinema de animação na infância, foi assim com você?
Jonatan Schwenk – Eu cresci sem televisão, não tive muito contato com animações na minha infância. Isso veio um pouco mais tarde, quando eu estava muito interessado em filmes como Wallace e Gromit, sendo que mais pelo ponto de vista técnico.
Eugênia Bezerra – Quando e como você percebeu que queria criar seus próprios filmes de animação?
Jonatan Schwenk – Primeiro eu estudei cinema e me envolvi com muitas filmagens de live action, em diferentes posições. Muitas vezes eu ficava frustrado com o fato de tantas coisas não serem previsíveis ou não poderem ser controladas, como o clima, por exemplo. Também percebi que filmes de animação não precisavam ser apenas para crianças e pude perceber o potencial enorme da animação para contar exatamente a história que eu queria.
Eugênia Bezerra – Você poderia falar um pouco mais sobre o que lhe atraiu no stop motion, especificamente?
Jonatan Schwenk – O stop motion tem a grande vantagem de fazer com que você movimente bastante o corpo enquanto faz a animação: Mais do que ficar trabalhando na frente do computador, você precisa mudar as posições dos personagens e pequenos mundos constantemente. Gosto de sentir as texturas dos mundos que eu mesmo crio.
E o público pode muitas vezes se conectar facilmente com os personagens. Não apenas no set, mas também na tela eles criam essa agradável sensação de fragilidade que facilmente comove o público.
Eugênia Bezerra – Assisti a alguns vídeos do seu trabalho e me pareceu que o som tem uma importância enorme, você concorda?
Jonatan Schwenk – O som é quase tão importante quanto as imagens do filme. Especialmente na animação: Muitas vezes é o som que torna a animação muito mais verossímil, que a traz para outro nível de realismo. Eu tento usar o som de maneira muito natural, sem muitos efeitos.